Monday, October 22, 2007

LOROTAS - Afinal, o que é filme B?

Transcrito de um post que criei no orkut, na comunidade Filmes B.
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=53891&tid=161768&start=1

Afinal, o que é Filme B?
Senti que deveria compartilhar algumas informações a respeito do que é realmente o filme B. Parece que todo mundo tem uma tendência a confundir filmes B com filmes de baixa qualidade, ou filme trash, splatter, gore,...No entanto isso é equivocado. Nem sempre filmes de baixo orçamento foram filmes mal feitos. A classificação em B surgiu durante a época áurea de Hollywood, anos 30 e 40, quando os grandes estúdios como a Paramount, a Warner e a MGM dominavam completamente o mercado cinematográfico dos EUA, impondo um monopólio com normas de distribuição opressoras. Nos anos 20, durante o crescimento dos mega estúdios, a bola da vez se tornou, além de produzir, ter cadeias de distribuição. Todos os grandes estúdios tinham suas distribuidoras, que empurravam aos cinemas a venda em pacotes fechados. Quem tivesse interesse em um ou dois títulos, era obrigado a comprar mais um monte de tralhas junto. Quem se dava pior eram os pequenos exibidores, com pouco dinheiro e com suas salinhas pequenas. Pra coisa ficar pior, os grandes estúdios tbém tinham suas suntuosas cadeias de salas exibidoras, oferecendo uma concorrência desleal.
Bem, com a Grande Depressão...
...devido à queda da Bolsa em 29, o negócio cinematográfico teve uma queda de forma geral. O público que antes era grande começou a sumir. Tanto produzir como exibir filmes ficou menos rentável. O chamariz para recuperar o público nos cinemas pobres e de periferia foi criar programas de sessões duplas, em que eram exibidos um filme de orçamento maior, o A, e um filme de baixo orçamento, o B, tudo pelo preço de uma sessão normal. Era uma forma de compensação ao público pois esse assistia a um filme A já defasado em um ou dois anos. A venda em lotes ainda existia, mas essas salas só conseguiam das distribuidoras refugos já exibidos em salas nobres, e ainda por cima as tranqueiras que lhes eram empurradas eram todas filmes de baixo orçamento. Para suprir esse nicho, os estúdios criaram divisões especializadas somente em filmes B, funcionando da mesma forma industrial dos filmes A. No entanto, muitos B não eram de baixa qualidade técnica, de atuação ou direção. Ao contrário, grandes obras foram produzidas. Obviamente, com menos dinheiro, os diretores precisavam se esforçar mais, inovar na linguagem, na dinâmica das tramas. O que se conhece hoje por filme Noir, por exemplo, não foi algo planejado para ter aquela estética de penumbra. Na real o que faltava às vezes era dinheiro pra uma boa iluminação.Outros estúdios pequenos se especializaram em produzir apenas filmes B - como a Republic e a Monogram, por exemplo - e vender seus filmes para distribuição através da estrutura dos grandões. Além de filmes, boa parte das produções era de seriados, com 12 ou 15 episódios curtos, alguns baseados em quadrinhos ou heróis do rádio - foram feito Flash Gordon, The Crinson Ghost, King of The Rocket Men, Batman – ou séries baseadas em um personagem, como Charlie Chan, o detetive chinês. Eram a alegria da piralhada nos matinés da tarde.
Outra característica era que o filme B...
...por ser um bônus, não podia ser muito cansativo e tirar a energia do público para a apreciação do filme A. Por isso, os B tinham geralmente tramas menos complicadas e mais superficiais. Sendo assim, os gêneros que melhor se adaptaram a esse tipo de produção foram terror, ficção científica, westerns, filmes de gangsteres e comédias. Dramas muitos densos não eram opção. Não é de se admirar, então, que surgissem os fantásticos cientistas loucos, com seus laboratórios cheio de parafernálias com raiozinhos e tubos de ensaio borbulhando, ou vilões querendo dominar o mundo, ou naves espaciais de papelão. Chegou então 1948, quando o governo americano deu um fim ao monopólio dos grandes. Nesse momento, a classificação em A, B ou qualquer outra coisa não teve mais sentido, pois acabaram as exibições duplas. Nos 50’s, o mercado se abriu e ficou mais fácil fazer filmes. Surgiram os drive-ins, o público adolescente estava fervilhando e a competição não era mais desonesta. Qualquer um, com algum, dinheiro podia filmar até no fundo do quintal. Nesse período começaram a pipocar insetos gigantes, invasões alienígenas(como o nosso amigo cabeçudo levando a mulher no canto dessa pág. - Invasion of the Saucermen de 57), monstros atômicos, tudo influenciado pela neura da Guerra Fria, do avanço científico descontrolado e do uso da Bomba no fim da II Guerra. Os grandes estúdios também apostaram nesses temas, inclusive investindo grandes verbas. Estranhamente, suas produções - como Guerra dos Mundos da MGM, por exemplo – continuam sendo incluídas no balaio dos “filmes B”. É o estigma que ainda hoje as persegue. Talvez o critério mais forte para esse agrupamento equivocado seja a “precariedade” dos efeitos. Pois bem, mas quem disse que eram precários? Talvez na época fosse o que de mais moderno pudesse existir. É óbvio que para nós, que hoje assistimos um Senhor dos Anéis totalmente digital, monstros em stop-motion, discos voadores de pratos de sopa ou lápides de papelão (Ed Wood, que Deus o tenha) são visivelmente ridículos.
O fato é que...
...filmes de baixo orçamento continuaram sendo feitos - passando pela blackexploitation, pela sexploitation, pelos filmes de surf dos anos 60 e etc - e ainda são até hoje. Talvez a facilidade de produção e a grande quantidade é que tenham começado a atentar contra a qualidade. O que se nota atualmente é a tendência de que o trash tomou conta. Assim, filme B passou a ser sinônimo de qualquer produção barata e mal feita.Outra coisa interessante é que, se analisarmos a coisa levando em consideração os gêneros (não estou falando em qualidade), hoje em dia também teríamos muitos “filmes B” de orçamentos altíssimos. O que é Alien, se não um filme de monstro espacial (tanto é que foi inspirado em It - The Terror from Beyond Space, de 1958)? Indiana Jones é extremamente inspirado nos seriados de aventura dos anos 30. Independence Day é a velha história de invasão alienígena e da reação humana contra a dominação (tal como em Guerra dos Mundos, de 1953).O que importa é que, baratos ou caros, toscos ou bem feitos, para quem gosta, esses filmes são puro entretenimento. Se tornam até Cults. São recheados de todo o lixo cultural que o pós-modernismo oferece, mas quem se importa? Quem se importa são os desavisados que vão assistir sem ter a real noção de qual a proposta da coisa. Não é emocionar, não é ser algo “cabeça”. É puramente divertir. Bom, escrevi pra caramba, mas espero ter contribuído em alguma coisa. É que gosto do assunto. Estudei sobre isso durante dois semestres pra minha monografia de conclusão da faculdade. Se alguém se interessar em ler algo a respeito, tem um livro chamado A Outra Face de Hollywood – Filme B, do A. C. Gomes de Mattos, editora Rocco.
Resumindo toda essa ladainha...
...eu achei importante esclarecer a diferença entre filme trash e B. Não são sinônimos. O termo Filme B é que passou a ter um significado pejorativo, em função de todo esse processo que a indústria passou. Na prática, nem se pode dizer que hoje sejam feitos filmes B, pois isso foi a 70, 60 anos atrás, como uma exigência de mercado. O que existem hoje, sim, são filmes de baixo orçamento. E baixo orçamento pro padrões atuais de Hollywood pode ser algo como 10, 20 milhões de dólares. Esses filmes podem ser trash ou não ser. A verdade é que até blockbusters milhonários podem ser trash. A questão é relativa.

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