Thursday, December 28, 2006

LOROTAS - "VAI COLOCAR ESSA CAMISETA GURI? TÁ SURICA!"

Surica.
Não me peça ao certo a definição da palavra, nem sua origem. Perguntei a minha namorada se conhecia e ela falou que achava que sim. Lembrava algo "bagaceiro", de baixo calão. Será???
Na real nunca a usei com esse sentido. Tão pouco, no passado longínquo, se referiu a "bagaceirices", quando empregada pelo dono da frase que dá título ao tópico. Sempre que a escutei, ou repeti, foi no equivalente à "calça de pegar pinto", ou seja, curta.
Fase de crescimento, aquela idade em que a cada ano dávamos uma espichada, e a roupa que a vovó havia dado de presente no Natal passado já não servia mais. A camiseta encurtava, deixava a barriga e o umbigo à mostra. Só que a adorávamos. Era nossa fiel amiga, para brincar, andar de bicicleta, dormir no sofá de tarde, e até para ir no aniversário do amigo da rua. Com ela curta sim, e daí? E a uma certa altura, também velha, surrada, puída, usada.
Este deve ser o espírito de uma camiseta especial: que seja nossa preferida, não importa se da segunda, da terça, da quarta,... ou do domingo, ou de quando acordamos cinéfilos, ou de quando sonhamos em ser astros do rock, ou de quando nos sentimos revolucionários, ou... ou... ou... de quando queremos simplesmente dizer algo para o mundo sobre nós mesmos. Que seja a peça que mais gostemos de vestir, que tenha a nossa cara, nosso jeito de ser, e que seja eterna, infinita enquanto dure (ou até que a empregada a roube para usar como pano de chão).
Suas cicatrizes de guerra são feitas pela máquina de lavar, pelo sabão, pelo sol e pelo varal. Mesmo detonada, continua sendo a nossa primeira opção quando abrimos o guarda-roupa. É a velha "básica", que fecha com o jeans e o all-star. A essa altura, provavelmente, não mais surica, pois nossos hormônios já estabilizaram e não acordamos a cada dia um centímetro mais altos (claro, há quem ainda ganhe medidas para os lados, mas é outra história), mas com certeza, com vida própria.
Use e abuse.